Porque sua produtividade não define o seu valor

Você não é o que produz. Neste artigo, reflito sobre como a produtividade virou um critério de valor pessoal e como isso pode afetar sua saúde mental e autoestima.

Quando tudo vira tarefa, até o descanso pesa

Vivemos em uma cultura que idolatra a produtividade. Acordar cedo, render o máximo, não parar, entregar sempre. Como se o tempo todo tivéssemos que justificar nossa existência com resultados.

Mas, e quando o corpo começa a falhar? E quando a mente já não acompanha o ritmo? Será que o seu valor diminui por conta disso?

Como psicanalista, vejo muitos pacientes que carregam uma culpa profunda por não se sentirem  produzindo “o suficiente”. O descanso vira sinônimo de preguiça. O tempo livre é visto como desperdício. E a comparação com os outros parece nunca ter fim.

A produtividade virou uma medida de valor. E isso adoece.

A lógica é simples, porém cruel: Quanto mais eu produzo, mais eu tenho valor. Se eu não produzo, sou inútil.

Essa crença silenciosa tem adoecido muita gente. E os sinais costumam aparecer assim:

  • Sentimento constante de inadequação ou fracasso.
  • Cansaço extremo, mesmo depois de um fim de semana de “descanso”.
  • Ansiedade antes de tarefas simples.
  • Incapacidade de relaxar sem culpa.
  • Perda de prazer nas atividades que antes eram prazerosas.

Você já sentiu algo assim?

Produtividade não é sinônimo de existência plena

O valor de uma pessoa não se mede pelo que ela entrega. Nem pela quantidade de tarefas concluídas em um dia.

Você vale porque sente, porque se relaciona, porque é atravessado por dúvidas e contradições. Você não vale menos nos dias improdutivos, nos dias silenciosos, nos dias em que tudo parece confuso.

Na análise, abrimos espaço para olhar para esses vazios sem tentar preenchê-los imediatamente. Às vezes, é no não fazer que algo essencial aparece.

Como a psicanálise pode ajudar?

A psicanálise convida você a se escutar com mais profundidade e a questionar as exigências que foram sendo internalizadas ao longo da vida.

Muitas vezes, a ideia de produtividade vem acompanhada de:

  • Padrões familiares de exigência.
  • Comparações sociais constantes.
  • Medo de não ser amado se não for “útil”.
  • Desejo de provar o valor a todo custo.

Na análise, você pode:

  • Reconhecer suas próprias medidas de valor, para além da comparação com os outros.
  • Questionar o que é seu e o que foi imposto.
  • Criar um espaço interno onde o descanso não precisa ser justificado.
  • Se libertar, aos poucos, da lógica do “fazer para valer”.

Conclusão: você não precisa ser uma máquina

Você não nasceu para dar conta de tudo. Você nasceu para viver. Com pausas, com falhas, com sentidos que não se explicam em planilhas e relatórios.

Talvez hoje você só consiga dizer: “estou cansado de ter que ser sempre produtivo”.

E isso já é um começo. Porque o cansaço também fala. E pode ser o seu corpo pedindo escuta, não desempenho.

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